segunda-feira, 27 de julho de 2015

CONTOS DA GUERRA ESQUECIDA - O VELUDO VERMELHO - PARTE IV


Eliza pousou as cartas na cama cuidadosamente; não queria que elas de desfizessem por serem mal manuseadas; mas a leitura deu mais uma pista de Antônio Ribeira que começou a intrigá-la; mas queria dedicar-se a essas divagações com calma; precisava contatar a equipe e mais do que nunca inteirar-se do que se passava no escritório. 



Chegou como de costume, recebendo a agenda do dia das mãos de Eunice, a prestativa secretária; tinha duas reuniões, uma às 14 horas e outra às 17; antes disso passou a vista no briefing geral de atividades e chamou a equipe para uma conversa informal sobre os projetos em andamento; todos estavam lá, curiosos para saber do projeto em Belém; ela respondeu laconicamente, dizendo apenas que “o negócio não foi em frente”; foi quando notou, sentado ao lado de Marcela, a estagiária, um rosto novo: cabelos grisalhos curtos, olhos negros, óculos de aro dourado encimados por sobrancelhas retas; segurava a caneta displicentemente na mão direita, tamborilando levemente.
- Eliza, esse é Walter, nosso novo relações públicas, você o tinha aprovado há alguns meses atrás – apresentou-o Marcela – você tinha dito que a entrevista não era necessária porque você confiava no currículo dele.
- Eu lembro bem; muito obrigado, Marcela. Seja então bem-vindo, Walter; espero que tenha sucesso em seu trabalho; mas vamos pôr as coisas em dia, não? – disse, num sorriso.

Walter assentiu com a cabeça e juntou-se à conversa.

Ela estava satisfeita com os resultados do grupo. Na ausência dela vários bons negócios tinham sido fechados, o que era muito positivo e consolidava ainda mais a imagem do escritório como um dos mais bem-cotados do mercado; vária s vezes foi sondada para adquirir capital acionário, mas polidamente declinara, preferindo investimentos mais sólidos e menos arriscados.

Saiu do escritório por volta das oito e meia da noite; jantou no lugar de costume, com o garçom levando -a para a mesa favorita, no canto do restaurante onde ela pudesse ver o movimento de vai e vem dos clientes; sentir o movimento dos lugares a relaxava, antes de voltar para casa. Demorou-se um pouco mais, saboreando lentamente a torta de trufas que tinha vindo de sobremesa; levantou os olhos para ver o movimento e deu de cara com o novo relações públicas, que entrara devagar e escolhera uma das mesas perto da porta. Notou a economia de gestos ao chamar o garçom e fazer o pedido, ao mesmo tempo que, ao notar a presença dela, acenou; Eliza respondeu ao aceno ao mesmo tempo em que pedia a conta; tinha pressa em chegar em casa e ler o restante das cartas que ainda repousavam na cama; acenou novamente ao passar pela mesa onde Walter estava, chamando o manobrista para trazer o carro; uma vez nele, saiu devagar e tomou o caminho de volta para casa.


Os sapatos já estavam nas mãos dela quando girou a fechadura, entrou em casa, deixou o blazer sobre o sofá e sentou para relaxar; respirou fundo e deixou-se levar pelo conforto, espreguiçando-se devagar e deixando os pensamentos a conduzirem; de repente, se viu relembrando o momento em que Walter entrara no restaurante, os gestos contidos, o modo espontâneo de acenar; surpreendeu-se ao sentir aquilo, pois já há muito deixara de buscar atratividade em qualquer pessoa; quis conter os pensamentos, mas algo dentro dela fez com que deixasse o pensamento fluir...

Mas logo os olhos dela se voltaram para o quarto e para as cartas espalhadas na cama; deixou esse novo pensamento, ao menos por enquanto, de lado, e voltou a tenção pra elas; não as leria agora, elas esperariam mais um dia...

Buscou o sono, mas ele demorou a vir...

( Continua...)


Um comentário:

A honra e o privilégio são meus...Muitíssimo Obrigado!!!